O Livro da Vaca Celestial

Andrew Fulton investiga o antigo mito egípcio que conta como a humanidade foi salva pela cerveja de cor vermelha.

Inscrito nas paredes de vários túmulos importantes no Vale dos Reis está o chamado Livro da Vaca Celestial, às vezes conhecido como A Destruição da Humanidade. A inscrição mais famosa (mas não a versão completa) está no santuário dourado externo de Tutancâmon em KV62, mais especificamente nos painéis esquerdo e traseiro do interior. O livro também está inscrito nas paredes de uma sala próxima à câmara do sarcófago nas tumbas de Sety I, seu filho Ramsés II e Ramsés III, mas essas são versões mais completas em comparação com a do KV62 e preenchem todas as quatro paredes do livro. as câmaras. A tumba de Ramsés VI tem uma versão reduzida em um nicho no terceiro corredor. Há um extrato de papiro no Museu Egípcio de Turim, originário de Deir el-Medina, e parte de um relevo de parede (provavelmente do túmulo de Sety I) no Musée Lapidaire em Avignon.

O livro em si pode ser dividido em duas partes principais. A primeira relaciona-se com a destruição da humanidade por Hathor, e o papel de Ra em enganá-la, evitando assim a aniquilação completa da humanidade. A segunda metade avança a partir desse episódio para revelar o reordenamento do cosmos por Ra como resultado da iniqüidade humana. A versão mais completa na tumba de Sety também contém várias instruções rituais e três vinhetas.

Em detalhes, o mito começa com um prelúdio no qual o Ra autogerado é descrito como sendo o rei da humanidade e dos deuses. Curiosamente, ele é tratado em um cartucho em um ponto como o 'rei do Alto e Baixo Egito' (nswt-bity). Isso é incomum, se não único.

Mas a humanidade conspirou contra Rá numa época em que ele envelheceu, e 'seus ossos eram como eletro, sua carne era como ouro e seu cabelo era como lápis-lazúli'. Ele convoca seu conselho de deuses (o Olho, Shu, Tefnut, Geb, Nut e, em particular, Nun, a deusa das águas primordiais na criação). Ele diz a eles que a humanidade está conspirando contra ele, mas não quer matar o povo até que ele tenha ouvido suas opiniões. Eles respondem pedindo a Ra que envie seu Olho como Hathor (o alter ego de Sekhmet) para matá-los.

Hathor volta mais tarde para dizer que matou as pessoas nas colinas. A deusa se descreve como vagando em seu sangue. Isso parece assustar Rá, que quer que ela pare. Ele pede que o ocre vermelho de Yebu (Elephantine) seja moído pelo sumo sacerdote em Heliópolis, e que a cevada para cerveja seja esmagada por servas, para preparar uma mistura que se assemelha ao sangue dos homens. O resultado final foram 7.000 potes de cerveja. Na manhã seguinte, a deusa viaja para o sul para continuar a matança e encontra os campos cobertos de cerveja vermelha. Hathor bebe a cerveja, acreditando ser sangue humano. Ela volta bêbada e claramente agora é incapaz de completar a destruição total da humanidade. Ela é recebida de volta em paz por Ra.

Ra agora decide deixar a Terra, presumivelmente desesperado com a humanidade. Ele é colocado nas costas de Nut, a Vaca Celestial, e ascende ao seu palácio nas estrelas. Agora é necessário um reordenamento do mundo, que lhe permita distanciar-se da matança anterior. Nut torna-se o céu e recebe as estrelas. Dois 'campos' são criados - o 'Campo das Oferendas' e o 'Campo dos Juncos', que são para os mortos abençoados.

Nut está nervosa e treme com o quão alto ela está, então Ra faz com que os oito deuses Heh a apoiem. Neste ponto, uma vinheta é mostrada da Vaca Celestial, Nut. Os oito deuses são representados segurando suas pernas, com o deus de escala maior Shu (deus do ar) sustentando sua barriga. Há duas barcas solares viajando sob sua barriga: uma mostra o deus sol Rá de pé a bordo; o outro está posicionado sob seus úberes, com Ra sentado em uma cabine. Os deuses Heh são os 'Infinitos' - o próprio hieróglifo significa 'milhões de anos'.

Agora que os céus foram estabelecidos, o deus da terra Geb é convocado e instruído a pedir a Nun para cuidar das cobras terrestres e aquáticas. Ele é instruído a se proteger contra mágicos também. Thoth é convocado para atuar como um escriba e acalmar aqueles que ele criou e aqueles que se rebelaram. Thoth tem que repelir os seguidores do deus 'This' (presumivelmente significando Set), enquanto Ra produz a luz do sol no Duat (Mundo Inferior). Thoth também abrange os dois céus como a lua (enquanto Rá está ausente à noite), com 'seu brilho e perfeição'. Finalmente, ele atuará como o vizir de Ra (na forma de um babuíno). Portanto, é uma época movimentada para Thoth em suas várias formas – íbis, babuíno e lua.